Segredos do WindowsA história ganhando espaço

Raymond Chen

Lembra do Microsoft Bob? Seu objetivo era ser uma interface de usuário amigável baseada no Windows® 3.1, mas, em vez disso, fracassou de forma vergonhosa (ganhando o título nada honroso como um dos piores produtos tecnológicos de todos os tempos, dado pela PC World). Nos anos que se passaram desde o fim do Bob, o produto foi relegado ao status de uma piada recorrente, sendo que a mera menção de seu nome causava risos.

Por acaso, o nome do código interno do Microsoft® Bob era "Utopia", um nome ambicioso com certeza, mas que pelo menos tinha um pouco de improvisação e ousadia. Quando soubemos que a equipe de marketing havia decidido chamar o produto de Bob, todos balançamos nossas cabeças em descrença.

Mas há mais sobre o legado do Bob do que você pode saber. Acontece que o Bob foi na verdade mais útil morto do que vivo.

Quando você pretende distribuir seu software em um CD, algo com o qual você deve se preocupar é ter certeza de que seu produto realmente cabe em um único CD. Felizmente, aconteceu que mesmo após levar em conta o espaço em disco necessário para as traduções, as ferramentas de suporte e as outras coisas que precisam entrar no CD do Windows XP, ainda havia aproximadamente 30 megabytes de capacidade de armazenamento restante. As pessoas que se preocupam com esses tipos de coisas pensaram: “Bem, já pagamos por toda essa capacidade de armazenamento do CD, então podemos muito bem usá-la, certo?”.

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O nome do código interno do Microsoft Bob era "Utopia", um nome ambicioso com certeza, mas que pelo menos tinha um pouco de improvisação e ousadia. (Clique na imagem para ampliá-la)

O resultado foi uma tentativa um tanto fraca de diminuir os esforços de pessoas que gostam de fazer cópias ilegais do Windows. Alguém decidiu preencher aquela capacidade extra no CD com dados fictícios e fazer com que o programa de Instalação do Windows verificasse se os dados fictícios ainda estavam lá. Isso, a lógica concluiu, forçaria as pessoas que estavam baixando uma cópia da imagem do CD a baixar mais trinta e poucos megabytes de dados. Lembre-se, isso foi no tempo em que "banda larga" ainda não havia se tornado uma palavra doméstica e os principais usuários estavam usando conexões dial-up. Ter que transferir mais trinta megabytes de dados por um modem de 56 Kb era um obstáculo razoável para diminuir os esforços dos usuários — não que fosse diminuir muito pelos padrões de hoje.

A pessoa que foi designada a implementar essa verificação precisava de uma fonte para os dados fictícios. Bem, ele poderia simplesmente ter chamado a função CryptGenRandom para gerar 30 megabytes de bytes criptograficamente aleatórios, mas qual a diversão nisso? Em vez disso, ele pesquisou os arquivos mortos e encontrou uma cópia do Microsoft Bob. Ele pegou todas as imagens do disquete e as combinou em um grande arquivo. O conteúdo das imagens do disquete do Microsoft Bob não é particularmente aleatório, então ele decidiu misturar os dados criptografando-os. Quando chegou o momento de digitar a chave de criptografia, ele simplesmente pressionou sua mão contra o teclado aleatoriamente e daí surgiu a cópia criptografada do Microsoft Bob. Foi isso que ocupou o espaço não utilizado como dados de lastro no CD do Windows XP.

No final das contas, o Windows XP se tornou a ferramenta de implantação mais eficiente do Microsoft Bob já desenvolvida. E se você voltar ao seu armário, desenterrar sua cópia do Windows XP e puder, de alguma forma, canalizar os espíritos certos para pressionar suas mãos no teclado exatamente do mesmo modo, então, do seu programa de criptografia surgirá uma cópia do Microsoft Bob.

O site do Raymond Chen, The Old New Thing, e o livro homônimo tratam do histórico do Windows e da programação Win32. Ele se pergunta se a fusão nuclear será viável enquanto ele estiver vivo.

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